Nas Sombras de Sintra
Sintra assombrada,
Terra de lendas e de mitos.
Em uma intrigante caminhada,
Capaz de provocar suspiros e gritos.
A névoa engole a serra de Sintra,
Varre a passagem, tolda a mente…
Sinuosa e sinistra,
Vem descendo qual serpente.
Muros musgosos adornam o caminho,
Flanqueados de árvores grandes e frondosas.
O vento traz o murmurinho
De vidas passadas, difíceis e penosas.
Os sons da noite abraçam os passos.
O cantar dos mochos serve de melodia,
Os ramos na noite parecem braços,
Dançando cheios de rebeldia.
Quintas e casas palaciais
Espreitam na escuridão.
Seus espectros observam dos beirais
Lugar onde nunca haverá solidão.
Histórias de assombrações
E de assassinatos misteriosos.
Ritos satânicos… comoções,
Que deixam rastros tortuosos.
Percursos sussurrantes e temerários,
Entre escadas e respiradouros,
Foram feitos pelos templários,
Aqui habitaram junto aos mouros.
Almas que vagueiam
Só por alguns avistadas.
Rodas de charretes nas calçadas golpeiam.
Dizem ser por fantasmas guiadas.
O cocheiro vem de cartola,
Como nos tempos antigos.
Traz à cintura a pistola
Para usar contra os inimigos.
No velho hospital, então,
Um bispo, encontraram.
Mumificado no seu cadeirão,
Por trás de uma parede o desvelaram.
No Palácio Nacional,
Choro de crianças e gritos.
Ali encontraram o seu final
Das inalações de fumos… aflitos.
Na Quinta do Relógio,
Escravos foram feitos cativos.
Ali jaz o necrológio
Daqueles seus donos opressivos.
Uma casa está por vender,
Cheio de relatos de turistas.
As fotografias vão surpreender:
Focos de luz cegam as vistas.
Quem a quis comprar
Teve sonhos com rituais,
Nem foi preciso ponderar,
A casa continua nos anais.
Estas são algumas das histórias
Que por aqui são contadas.
Ficam cravadas nas memórias
Para sempre na mente, sepultadas.
De dia bela e vibrante;
De noite, assustadora;
Para muitos é amante.
Sintra, a cidade tentadora.
Por: Susana Geadas (Escritora, Professora de Escrita Criativa, Criadora do Blog “Os Rabiscos da Gaedas” e uma das Vencedoras do concurso literário “O Legado de Edgar Allan Poe“)